domingo, 21 de novembro de 2010

Uma Tarde de Chuva

Uma tarde vazia. O ar denso anuncia que em breve cairá a chuva, levantando o vapor dessa terra aquecida nesses dias de tempo quente. Nuvens de quilômetros de altura, escalando para um céu cada vez mais profundo, encontram-se e fazem a atmosfera falar. Logo vem água. E a tarde segue vazia e silenciosa.

A casa é confortável e parece dormir. Sofás aconchegantes, uma sensação de paz e um rádio velho desligado. Um gato dormindo no chão, em frente a uma lareira apagada. Não há personagens, não há individualidade. Às vezes, toda história pessoal está suspensa, e só resta o que há ao redor. Sem pensamentos, sem ansiedade, sem felicidade. Nem mesmo indiferença. Não há nada exceto o instante de infinita calma e inexorabilidade no universo que agora acontece.

Corpo relaxado, atmosfera silenciosa, vento tênue e certo, que dança de acordo com o tempo da natureza. Vento relaxado, descansado, no tempo perfeito. Balança a árvore somente o suficiente pra me causar um peso no peito, de estupefação, para me lembrar que ainda estou ali. Mas logo me perco, serenamente.

As primeiras gotas, após um distante trovão. O gato esboça acordar, mas é levado mais uma vez ao transe por essa maré sossegada que começa a cair do céu. Água que escorre pela vidraça da sala. Na cozinha, o fogão desligado, com xícaras vazias e um bolo por comer, com a janela dando para um jardim ocupado somente pela natureza. Escorre a água. Limpa paredes, limpa janelas, limpa os seres. As gotas aumentam. É chuva forte. Poços de água na grama do jardim. A tarde fica mais escura. A consciência afunda em cada poça de água, que parecem profundas como o oceano pacífico.

Vem um vento, a chuva fica mais branda. A tarde fica mais clara. As janelas continuam com gotículas a escorrer. O ar é limpo. O mundo parece pronto para quem queira recomeçar. Dou conta de mim. Com tanta infinitude e profundidade, como posso simplesmente levantar e comer um bolo?Gestos automáticos tornam-se gestos tristes após momentos de tanta contemplação. Como posso tomar conta da minha própria vida? Começo a escrever de mim, a encontrar problemas novamente. Realmente, a chuva passou. Já ouço os barulhos do cotidiano.

Mas sempre volta a chover.

Um comentário:

  1. massa!!
    ...após a contemplação e a percepção de que podemos sentir prazer nas manifestações simples da vida, tomamos consciência, ao voltar para o cotidiano mecanizado, que somos repletos de pequenos problemas e que estes nada valem perante a natureza...mas o legal é que a chuva sempre volta...
    tri, meu velho
    abração
    Rafael G.

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