segunda-feira, 18 de abril de 2011

Como anda a vida?


Na maior parte do tempo, a vida passa de forma tão despercebida que parece que não temos nenhuma ação sobre o desenrolar dos fatos. Aí, de repente, nos damos conta do óbvio: as coisas estão acontecendo. Ou, num tom mais pessimista, mas chegando ao mesmo fim: a morte inevitavelmente vai acontecer. Tanto faz a abordagem, o que quero dizer é que levamos quase um susto quando nasce a percepção da passagem do tempo. Então vem a questão, que, infelizmente, acho que nem todos enxergam: tem valido a pena esse tempo? Ou, pelo menos, está ele sendo razoavelmente bem vivido?
A questão de aproveitar a própria vida fez crescer, no transcorrer da história da humanidade, definições daquilo que seria uma vida virtuosa. Penso que o fim de boa parte das religiões é estabelecer um caminho mais ou menos racionalizado para que almas teoricamente perdidas possam alcançar algum tipo de redenção espiritual, muitas vezes difícil de ser atingido pelo meio individual. Daí nascem as privações, os rituais, a moralidade, a noção de certo e de errado, a dualidade do bem o do mal. Culturas particulares criam meios próprios para estabelecer dentro do seu meio o que caracteriza uma vida que vale a pena ser vivida. Dentro de algumas religiões, como a católica, encontramos uma ideia de buscar uma vida virtuosa para um observador, no caso, Deus. Penso que, consequentemente, perde-se aquilo que é de maior valor quando buscamos a satisfação com nossa própria história, que é justamente a auto-crítica. Vive-se de acordo com a própria liberdade ou para um observador externo que, como um pai, aprova ou não os nossos atos? Não é a por acaso que nasce uma nova sensação de bem-estar e novo auto-conhecimento quando saímos dos nossos tenros lares para morarmos sozinhos em uma cidade distante. Semelhantemente, quem sabe contar e recontar a própria história sem um “editor” dando pareceres sobre o nosso roteiro não possa desencadear uma sensação parecida com essa do adeus ao âmago familiar? Isso não implica, penso eu, na descrença em relação a Deus ou o quer que seja. É apenas a mudança da visão de um universo opressor e julgador para uma vivência em que temos participação nos acontecimentos. Mais do que isso, uma vivência em que nos sentimos ligados à complexa teia da existência.
Das definições acerca do que seria uma vida vivida cheia de plenitude a satisfação gosto daquela escrita pelo filósofo e matemático inglês Bertrand Russell, que assim escreveu: “uma vida virtuosa é aquela inspirada pelo amor e guiada pelo conhecimento”. Amor e conhecimento, duas coisas muito pessoais, capazes de serem alcançadas em maior intensidade somente com a sinceridade em relação aos próprios sentimentos. Inevitavelmente, para uma vida inspirada pelo amor e guiada pelo conhecimento, precisamos de auto-consciência. Precisamos de abertura para as emoções e de liberdade de pensamento, algo difícil de ser atingido com aquele ideal de buscar a redenção perante algum deus.

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